25 de junho de 2012

Nascimento da arquitetura gótica

O texto a seguir foi extraído de: Opera Mundi

No dia 11 de junho de 1144, a inauguração do coro da Basílica de Saint-Denis marca o nascimento da arte gótica. Convidados pelo abade Suger, participariam de cerimônia o rei de França, Luis VII, sua mulher, a duquesa Alienor da aquitânia, e todos os grandes personagens da corte e do clero.

Arcebispos, maravilhados pela luz dos vitrais e pelo arrebatamento das esculturas, retornariam às suas dioceses com o desejo de reconstruir suas próprias catedrais dentro do peculiar estilo de Saint-Denis.

O estilo arquitetônico que caracteriza o coro de Saint-Denis foi batizado de ogival por conta do padrão estético de seus arcos. Também chegou a receber o nome de arte francesa dada sua origem, a Paris do século XII. Apenas em meio à renascença italiana é que passaria a se chamar arte gótica, um escárnio que associava essa arquitetura a algo "apenas digno das tribos bárbaras Goths".

O termo gótico foi usado pela primeira vez pelo pintor Rafael por volta de 1518, num relatório ao papa Leão X sobre a conservação de monumentos antigos. O pintor considerava que os arcos em ogiva lembravam a curvatura das árvores que formavam as cabanas primitivas dos habitantes das florestas germânicas. O termo gótico é retomado num sentido pejorativo pelo crítico de arte Giorgio Vasari, em 1530, fazendo referência ao saque de Roma pelos bárbaros Goths.

Filho de um servo, o abade Suger ascendeu à cúpula da Igreja de do Estado somente por seu talento. Sua abadia, cujas partes mais antigas remontam aos reis merovíngios da linhagem de Clovis, foi desde cedo um lugar de peregrinação. Desde a época de Dagoberto, os reis e príncipes queriam ser enterrados lá. Pepino, o breve, e seus dois filhos, Carlman e Carlos Magno, foram ali sagrados reis da França pelo papa.

Empreendedor singular, mandou reconstruir a abadia de saint-Denis. Suas concepções arquitetônicas eram opostas as de seu contemporâneo e rival, o austero Bernard de Clairvaux, que defendia o despojamento dos locais de culto.

Num primeiro momento, o abade adota para a fachada e para a cripta o estilo romano da época. Ainda assim, introduz na fachada uma soberba rosácea, a primeira do gênero. O estilo romano se expandiu no Ocidente após o ano mil, por ocasião da renovação da igreja. Caracterizava-se por abóbadas de berço, também conhecidas como abóbodas de canudo, abóboda cilíndrica ou de canhão. Capazes de sustentar sólidas paredes de pedra, eram construídas como um contínuo arco de volta perfeita, retomando posteriormente pela arquitetura do Renascimento.

Todavia, por volta de 1130, por ocasião da construção da catedral de saint-Étienne em Sens, um novo estilo arquitetônico surge discretamente, trazendo formas mais leves, mais esbeltas e mais luminosas. O abade Suger ficou seduzido por esse novo estilo e decide se inspirar para o término de sua querida basílica.

Com a consagração do coro de saint-Denis, os contemporâneos tiveram consciência de assistir ao nascimento de um novo estilo arquitetônico, revolucionário por sua audácia e seu caráter resolutamente inovador.

Texto extraído de: Opera Mundi

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