17 de abril de 2011

Daimónion - Um Breve Esclarecimento Demoníaco

O Paraíso Perdido
Uma das ilustrações feitas por Gustave Doré
para a obra de John Milton.

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O reinar justifica a ambição,
Inda que seja no próprio inferno!
É preferível reinar no inferno
Que servir como escravos no céu!

(John Milton, O Paraíso Perdido)

Uma definição básica para Daimónion (demônio) é a de uma iníqua criatura espiritual, invisível, com poderes sobre-humanos. A costumeira palavra grega para demônio (daí·mon) ocorre apenas uma vez nos originais gregos das escrituras cristãs, e está no livro bíblico de S. Mateus 8:31; em outros lugares, no entanto, aparece a palavra daimónion. Já a palavra grega para “espírito”, (Pneú-ma), às vezes é aplicada a espíritos iníquos, ou demônios. Ocorre também acompanhada por termos qualificativos tais como ‘iníquo’, ‘impuro’, “sem fala” e “surdo”.
Os demônios, do modo como os conhecemos hoje, não teriam sido criados por Deus. O primeiro a se transformar num deles foi Satanás, o Diabo, que se tornou o governante de outros filhos angélicos de Deus, os quais também se transformariam em demônios. De acordo com a mitografia, ou o conjunto de crenças cristãs, nos dias do personagem bíblico Noé, anjos desobedientes se materializaram, casaram-se com mulheres, produziram uma geração híbrida, conhecida como os nefilins, e depois se desmaterializaram quando veio o Dilúvio. Todavia, ao retornarem ao domínio espiritual, eles não recuperaram a sua elevada posição original, pois segundo uma versão do livro de Judas: “Os anjos que não conservaram a sua posição original, mas abandonaram a sua própria moradia correta, ele [Deus] reservou com laços sempiternos, em profunda escuridão, para o julgamento do grande dia.”




Gustave Doré representa nesta tela
o julgamento no dia do juízo

De modo que é a esta condição de densa escuridão espiritual que são obrigados agora a confinar suas operações. Embora evidentemente impedidos de se materializarem, ainda teriam grande poder e influência sobre a mente e a vida dos homens, tendo até mesmo a capacidade de entrar em homens e animais e possuí-los - a famosa possessão demoniaca - e os fatos mostram que também usariam coisas inanimadas, tais como casas, fetiches e amuletos.
Ao considerar os fatos por esse ponto de vista vemos que o objetivo dos demônios, portanto seria desviar as pessoas daquele que seria "O Caminho". E essa é uma das chaves para compreender a dogmática cristã.
Este dogma, inclusive, vai dar origem a famosa crença na guerra entre Deus e Lúcifer. De acordo com a crença tradicional os demônios estariam hoje influenciando o mundo do mesmo modo como fizeram no passado e que esta influência estaria aumentando. Resumindo, o livro de Apocalipse fala aproximadamente o seguinte: "Foi lançado para baixo o grande dragão, a serpente original, o chamado Diabo e Satanás, que está desencaminhando toda a terra habitada; ele foi lançado para baixo, à terra, e os seus anjos [demônios] foram lançados para baixo junto com ele. ... ai da terra e do mar, porque desceu a vós o Diabo, tendo grande ira..."

Em outras palavras a influência demoníaca e sua ação hoje - considerando a ira de Satanás - levaria à guerra do juízo final. Mas, assim como dito anteriormente nesta postagem nem sempre os demônios tiveram a mesma conotação.
Por exemplo, para os gregos o uso da palavra “demônio” é limitado e específico em comparação com as noções dos antigos filósofos e o modo em que esta palavra era usada no grego clássico. Neste respeito, o Dicionário Teológico do Novo Testamento (em inglês), editado por G. Kittel (Vol. II, p. 8) observa:

“O sentido do adjetivo [dai·mó·ni·os] destaca bem claramente as particularidades distintivas do conceito grego sobre os demônios, porque denota aquilo que está fora da capacidade humana e assim deve ser atribuído à intervenção de poderes superiores, quer para o bem, quer para o mal. [dai·mó·ni·on] nos escritores pré-cristãos pode ser usado no sentido de ‘divino’.” (Traduzido para o inglês e editado por G. Bromiley, 1971).

Ou seja, talvez uma das grandes dificuldades da compreensão do "significado dos demônios" esteja lidar com esta "ambigüidade" com a qual nos encontramos ao analisar o uso do termo hoje em dia e seu uso no passado. Mesmo hoje na atualidade em determinadas culturas os demônios, normalmente tidos como maus na cultura ocidental, podem assumir, por exemplo, características boas em culturas orientais.

Outras definições e pormenores acerca dos demônios podem ser observados nestes dois links:
DEMONOLATRIA - 1ª parte; 2ª parte

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